Um dos grandes mitos gerados pela vigência da Lei Geral de Proteção de Dados é de que a lei impossibilitaria as empresas de divulgarem o seu trabalho e captarem futuros clientes, inviabilizando os processos básicos da publicidade e propaganda on-line e off-line.
Com os avanços da área de marketing, a propaganda acaba dividindo o palco com outras estratégias complementares que visam à captação de dados pessoais para gerar insights de negócio e venda. Este é o ponto em que muitos profissionais não compreendem as bases legais e são contra a legislação protetiva de dados pessoais, para que assim possam continuar utilizando os dados da maneira equivocada, sem privacidade, segurança ou transparência.
Não é o fim da propaganda
A coleta de dados não impedirá a realização das ações, mas é necessário que um profissional qualificado na área seja envolvido. Esse especialista deve avaliar a ação proposta e assegurar que a privacidade, o uso adequado dos dados e todos os processos sejam executados corretamente.
Existem duas principais frentes no marketing que precisam de mais atenção durante a execução dos processos: a área de eventos presenciais, que durante o ano de 2020 sofreu com a proibição das atividades devido à pandemia do coronavírus, e as ações de captação de leads.
Nem sempre as adequações para realizar as ações impactam em custo, mas em alguns momentos o investimento é necessário. É importante lembrar que a área de publicidade e propaganda não conseguirá resolver este problema sozinha. Cada caso é um caso, mas o departamento jurídico e o de tecnologia certamente precisarão estar bem alinhados.
Eventos Off-line
De maneira geral e independentemente do tema do evento sempre existe uma forma de captar o contato das pessoas que participam ou querem participar, certo?
Em eventos grandes, com mais de 300 pessoas, geralmente realizamos um cadastro antecipado para que a pessoa possa participar. Em exposições, fazemos o cadastro na entrada. Tratamos o cadastro de maneira digital na sequência. Agora, vamos tratar dos eventos menores, nos quais coletamos dados usando pranchetas pautadas, cupons e outros materiais físicos.
Neste caso, alguns profissionais contratados para a ação abordam pessoas para oferecer um diferencial e assim coletam dados desses indivíduos. Por este processo ser manual e de difícil comprovação da veracidade dos fatos, ele se torna mais difícil.
Legislação
A Lei indica, de maneira básica, que o portador do dado tem que estar ciente da coleta, do que irá acontecer com o dado, e tem o direito de solicitar a exclusão do dado a qualquer momento. Imagine lidar com toda essa informação em um cupom de 50x35mm ou em uma prancheta com muitos campos, que não é entregue ao participante.
Entender o que irá acontecer com o dado não é dizer que ele será guardado pela ssua empresa, mas dizer que ele será inserido em um ou mais softwares (terceiro ou internos), que será disponibilizado para o departamento comercial, que poderão ocorrer ligações e envio de mensagens via SMS e Whatsapp, que será incluído também em uma ferramenta de marketing para envio de e-mails promocionais e informativos sobre os produtos e serviços prestados e assim por diante.
Calma, mesmo com tudo isso é possível trabalhar este mailing. Existe uma forma efetiva de fazer isso, que é a digitalização do processo de cadastro, com a utilização de celulares e tablets para a abordagem. Pense sempre que é preciso comprovar que quem deu o “aceite” foi o próprio portador do dado. A Nubank é um exemplo de marca que, ao finalizar o cadastro, pede uma foto sua com o documento de identificação.
Identificando Ações Futuras
Como o investimento em tecnologia pode não ser viável, uma alternativa é identificar uma ação futura para converter o lead de forma parcial. Você pode ligar de um call center, gravar a ligação e coletar dados restantes, informando sobre os usos dos dados, ou enviar um e-mail para obter opt-in e coletar informações adicionais. Assim, a empresa poderá usar os dados consentidos da forma informada das pessoas que realizarem a segunda conversão. Descarte todos os demais cadastros de forma adequada, garantindo que ninguém, nem mesmo as empresas de coleta de lixo, tenha acesso aos dados.
Captação de leads on-line
Independentemente da motivação inicial, e-book, webinar, página de contato e afins, o mesmo que vale para os dados físicos também se aplica aos dados digitais. Um lead é alguém que fornece suas informações de contato em troca de algum material ou benefício da sua marca. Primeiro, analise toda a cadeia do dado do lead e, em seguida, desenvolva ou atualize os Termos de Privacidade e de Uso do formulário.
Perceba que o departamento de publicidade e marketing precisa se aliar ao departamento jurídico para desenvolver estes documentos, assim como com a área de tecnologia, para que seja possível, além de coletar os dados, também obter o aceite dos termos, versionar aceite e se preparar caso a pessoa solicite a exclusão dos dados.
A exclusão desses dados não precisa de justificativa: a empresa deve acatar o desejo do portador do dado de maneira objetiva. Assim, quanto mais preparado e clara for sua documentação sobre onde os dados estão, mais fácil será realizar a exclusão desses dados.
Em alguns casos, o departamento de Processos pode ser útil em parceria com o jurídico, já que existem outras legislações mais específicas, como a da área de gente e gestão, que não permite a exclusão de dados por um período mais longo devido ao cumprimento de outras obrigações legais..
Por isso, a solução para estar mais bem preparado para lidar com o público neste momento é o Planejamento Tático e Estratégico da área.
O Compliance com a Lei Geral de Proteção de Dados
Perceba que, com estes esforços, você permite que parte da operação esteja em compliance com a LGPD, mas ainda longe de uma completude do caso. Uma organização precisa de tempo e esforços de todas as áreas que têm contato com dados pessoais, sejam de clientes, prospects, colaboradores ou parceiros.
As soluções rápidas e milagrosas disponíveis no mercado são potencialmente problemáticas e incompletas. Desta forma, é indicado procurar um escritório de advocacia que tenha uma visão ampla dos processos jurídicos e tecnológicos com foco no compliance da LGPD.
Um outro ponto que vai te auxiliar e garantir mais segurança nas ações empresariais é a contratação de selos certificadores, que, além de verificarem se tudo está disposto da melhor maneira possível, ainda permitem que as pessoas que tenham contato com a sua marca olhem para ela com mais tranquilidade e segurança, aumentando a valorização da marca e também a confiança.
A LGPD não veio para dificultar a propaganda, muito pelo contrário. Profissionais da área de publicidade e propaganda que estão informados sobre a Lei farão uma boa estratégia com os dados e ainda terão mais vantagem competitiva no mercado.
Por Marketing Resh