A revista The Economist, uma das mais conceituadas do mundo, publicou em 2017 um artigo afirmando que dados são mais valiosos que petróleo. Desde então a frase “Dados são o novo petróleo” tem sido tema de muitas palestras, artigos e discussões. Mas, se na economia os dados são realmente o novo petróleo, seria correto afirmar que, em se tratando da sociedade, a Internet é a nova eletricidade?
Em 11 de agosto, o Secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, anunciou US$ 100 bilhões para expandir a banda larga em áreas rurais. Na oportunidade ele disse: “A Internet de banda larga é a nova eletricidade”. O Secretário fez essa comparação porque, no início do século XX, o governo dos EUA reconheceu que sem eletricidade acessível, a participação plena na sociedade era impossível. E, por este motivo, fez investimentos gigantescos para levar a eletricidade a todas as áreas urbanas e rurais, por volta de 1930.
A cobertura é ampla?
Ao ir a um comércio ou consultório, não pensamos se há eletricidade, assim como com água encanada. Ela é uma infraestrutura mínima esperada em todos os lugares. Apesar de estarmos evoluindo, infelizmente, com a Internet ainda não é a mesma coisa.
Em 18 de agosto, o cetic.br divulgou a pesquisa “TIC Domicílios 2020”, mostrando que 1 em cada 4 brasileiros estava sem acesso à Internet. A pesquisa revelou que o Brasil tem 152 milhões de usuários de Internet, com 83% dos domicílios tendo acesso, superando os 81% de usuários individuais. Na comparação com 2019, o aumento foi de 12 e de 7 pontos percentuais, respectivamente. Contudo, as profundas desigualdades regionais e socioeconômicas que marcam a sociedade brasileira também estão presentes na vida online.
Classes mais altas, com maior escolaridade e mais jovens, apresentam as maiores proporções de usuários e há muitas disparidades quanto à qualidade da conexão de Internet nos domicílios e aos tipos de dispositivo utilizados para o acesso à rede. O relatório aponta que, durante a pandemia, atividades essenciais migraram para a Internet, mas persistem desigualdades no aproveitamento das oportunidades on-line. Por exemplo, a Classe C realizou mais curso a distância (18%) e estudo por conta própria (45%), mas ainda em proporções muito inferiores à da classe A. O preço da conexão permanece a principal barreira de acesso, mencionada pelos 5.590 domicílios pesquisados.
Internet e Energia
Mas, o leitor atento já deve ter percebido que há algo paradoxal nisso tudo. Se a Internet realmente é a nova eletricidade, por outro lado a disponibilidade da Internet depende da confiabilidade da energia. Sem energia a Internet se torna um grande vazio. No Brasil, 420 mil famílias estão sem energia. Assim, uma crise energética, agravada por inércia estatal e mudanças climáticas, ameaça as hidrelétricas, responsáveis por 60% da energia.
O consenso é que a expansão do acesso à internet e à energia deve ocorrer simultaneamente para evitar desigualdades digitais e um apagão eletro-cibernético iminente. Ainda há muito a ser feito.
Por Prof. Dr. Adriano Mauro Cansian